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Jeremy Hammond: Os Revolucionários que Vivem Entre Nós

terça-feira, 12 de novembro de 2013 |

Tudo Saudável, o menor preço em Produtos Naturais


Hammond se tornou conhecido do governo por conta de uma série de atos de desobediência civil na última década. Eles variaram de grafite contra a guerra nas paredes de Chicago aos protestos durante a Convenção Republicana em Nova York, em 2004, e ao hacking do website de direita Protest Warrior, pelo qual ele foi condenado a dois anos no Instituto Penal Federal em Greenville, Illinois.

Quatro outros envolvidos na mesma ação de hacking foram condenados na Grã-Bretanha, e todas as penas deles somadas – a mais longa foi de 32 meses – são muitíssimo menores que a pena possível de 120 meses que ameaça Hammond.

Hammond entregou o material todo à página WikiLeaks e à revista Rolling Stones[2] e a outras publicações. Os três milhões de e-mails, quando tornados públicos, expuseram as ações de infiltração, monitoramento e vigilância contra manifestantes e dissidentes, sobretudo do movimento Occupy, feitas a serviço de empresas privadas e do estado de segurança nacional. Foi quando todos ficamos sabendo, comprovadamente, e talvez seja a revelação mais importante, que as leis antiterrorismo estão sendo aplicadas rotineiramente pelo governo federal dos EUA para criminalizar dissidentes democráticos não violentos, e para associar, falsamente, dissidentes norte-americanos e organizações internacionais terroristas. Hammond não procurava ganho financeiro. E nada recebeu.


Os e-mails que Hammond tornou de conhecimento público são parte das provas que instruem a ação que movi contra o presidente Barack Obama, nos termos da seção 1.021 da Lei de Autorização de Defesa Nacional [orig. National Defense Authorization Act (NDAA)]. Essa seção 1.021 permite que militares prendam cidadãos que o estado acuse de serem terroristas, permite negar-lhes o devido processo legal e mantê-los presos por tempo indefinido em instalações militares. Alexa O'Brien, estrategista de conteúdo e jornalista, co-fundadora de “US Day of Rage” [Um dia de Fúria-EUA], organização criada para reformar o processo eleitoral, é um dos coautores, comigo, naquela ação.

Empregados da empresa Stratfor tentaram – e sabe-se pelos documentos que Hammond vazou – associar falsamente ela e sua organização a islamistas radicais e respectivas páginas de Internet, e à ideologia jihadista, pondo-a sob a ameaça de ser presa, nos termos da nova lei. A juíza Katherine B. Forrest decidiu, em parte por causa das informações vazadas, que nós tínhamos motivos razoáveis para medo, e anulou os efeitos da lei – decisão que foi anulada num tribunal de apelação, quando o governo Obama recorreu contra ela.

O estado-empresa já cancelou a liberdade de imprensa e a proteção legal a quem exponha abusos e mentiras praticados pelo estado e pelo governo. Daí resultaram o autoexílio de jornalistas investigativos como Glenn Greenwald, Jacob Appelbaum e Laura Poitras, além do processo contra Barret Brown. Todos os atos de resistência – inclusive o protesto não violento – já foram decididos, pelo estado-empresa, como atos terroristas. A imprensa foi castrada pelo uso repetido, pelo governo Obama, da Lei Antiespionagem [orig. Espionage Act], para acusar e condenar os tradicionais ‘tocadores de alarme’ [orig. whistle-blowers].

Ele disse que está lutando como um “comunista anarquista” contra “a autoridade estatal centralizada”  e “corporações exploradoras”.

Seu objetivo é construir “coletivos sem líderes com base em associações livres, consenso, ajuda mútua, autossuficiência e harmonia com o meio ambiente”. É essencial, disse ele, que todos nós trabalhemos para cortar nossas ligações com o capitalismo e nos engajemos em “organizações de protestos massivos, graves e boicotes”.

Hackear e vazar informações, disse ele, fazem parte da resistência – “são ferramentas efetivas para revelar verdades horrorosas sobre o sistema”.

Hammond passou meses no movimento Occupy, em Chicago. Ele abraçou “sua estrutura não hierárquica, sem líderes, como as assembleias gerais e consensos, e a ocupação de espaços públicos”.

Mas ele criticou muito o que chamou de “políticas vagas” no Occupy, que permitiram a inclusão de seguidores do libertário Ron Paul, alguns do Tea Party, assim como “reformistas liberais e Democratas”.

Hammond disse que ele não estava interessado em um movimento que “queria apenas uma forma mais simpática de capitalismo e preferiam reformas legais e não uma revolução”. Ele continua enraizado no ethos do Black Bloc.

Ficar preso realmente abriu os meus olhos para a realidade do sistema judicial criminal”, disse ele, “esse não é um sistema voltado para a segurança pública ou para a reabilitação, mas sim um sistema que arranca lucro da prisão em massa. Existem dois tipos de justiça – um para os ricos e poderosos que saem ilesos de grandes crimes, mas para o resto, especialmente os pobres e de cor. Não existe julgamento justo. Em mais de 80% dos casos as pessoas são pressionadas a confessar algo ao invés de exercitarem seu direito a um julgamento, sob ameaça de longas sentença. Eu não acredito na possibilidade de uma reforma satisfatória. Nós precisamos fechar todas as prisões e libertar todo mundo incondicionalmente”.

Ele disse ter esperanças de que seu ato de resistência encoraje outros, assim como a coragem de Manning o inspirou. Ele disse que os ativistas devem “saber e aceitar a pior consequência possível”  antes de levarem a cabo uma ação e devem estar “conscientes de que a contra inteligência massiva e as operações de vigilância tem nossos movimentos como alvo”.

Um informante que se apresentou como camarada, Hector Xavier Monsegur, conhecido online como “Sabu” entregou Hammond e seus cúmplices ao FBI.

Monsegur armazenou dados conseguidos por Hammond em um servidor externo em Nova York.

Essa tênue conexão nova-iorquina permitiu ao governo processar Hammond em Nova York por hackear uma empresa de segurança baseada no Texas de sua casa em Chicago. Nova York é o centro das investigações do governo sobre guerra cibernética; é onde autoridades federais aparentemente queriam que Hammond fosse investigado e processado.

Hammond disse que vai continuar resistindo de dentro da prisão. Uma série de mini infrações, como também o resultado positivo, junto com outros presos, no exame de maconha contrabandeada para dentro da cadeia resultou na perda do direito de visitas nos próximos dois anos e “tempo na caixa” (solitária). Ele pode ver jornalistas, mas meu pedido de entrevista levou dois meses para ser aprovado. Ele disse que na prisão existe ”muito tédio”. Ele joga xadrez, ensina violão e ajuda outros presos com os estudos. Quando o vi, ele estava trabalhando em um texto, um manifesto pessoal, que será lido no tribunal esta semana.

Ele insistiu que não se vê diferente dos demais presos, especialmente os presos pobres de cor, que estão ali por crimes comuns, espacialmente relacionados a drogas. Ele disse que a maior parte dos presos é formada pro presos políticos, enjaulados injustamente por um sistema capitalista totalitário que negou oportunidades básicas de dissidência e sobrevivência econômica.

A maioria das pessoas na prisão fizeram o que precisavam fazer para sobreviver”, disse ele. “A grande maioria era pobre. Eles foram pegos na guerra contra as drogas, que é como você ganha dinheiro se você é pobre. A verdadeira razão pela qual eles foram trancafiados na cadeia por tanto tempo é para que as corporações possam continuar a faturar. Não tem nada que ver com justiça. Não faço distinções entre nós”.

A cadeia significa essencialmente sobreviver aos abusos e condições desumanizantes”, disse ele. “Você tem que lutar constantemente para ser respeitado pelos guardas, algumas vezes sendo jogado na caixa (solitária). Entretanto, não vou mudar a minha maneira de viver porque estou trancafiado. Continuarei a ser desafiador, agitador e organizarei as pessoas onde for possível”.

Ele disse que a resistência tem que ser um meio de vida. Pretende voltar a organizar comunidades quando for solto, apesar de ter dito que vai trabalhar para não voltar à prisão. “A verdade”, disse, “sempre virá à tona”. Ele alertou ativistas a serem hiper-vigilantes e conscientes de que “um erro pode ser permanente”. Mas acrescentou, “não deixem a paranoia ou o medo lhes afastar do ativismo. Trabalhem anônimos”.

Referências:

[1] Sobre o caso, ver http://www.huffingtonpost.com/2013/05/28/jeremy-hammond-anonymous-hacker-guilty-stratfor_n_3347215.html
[2] http://www.rollingstone.com/culture/news/the-rise-and-fall-of-jeremy-hammond-enemy-of-the-state-20121207
[3] Sobre isso, ver http://en.wikipedia.org/wiki/DEFCON
[4] O glider (lit. “uma espécie de asa para voo controlado; variante do paraquedas”) não tem nem marca registrada nem copyrighs. Se quiser usá-lo em sua página, aqui vão as linhas que você pode copiar-colar:
hacker emblem
O glider tem a forma que se vê aqui:
[NTs, com informações de http://www.catb.org/hacker-emblem/]

[5] http://carlafilizzola.blogspot.com.br/2010/05/hexagrama-7-shih-multidao.html
[6] http://revistaforum.com.br/blog/2013/08/black-bloc-fazemos-o-que-os-outros-nao-tem-coragem-de-fazer/ [NTs].
[7] Ver, interessante: http://www.crimethinc.com/blog/2013/10/30/the-2103-uprisings-in-brazil-speaking-tour/. Entre os dias 8-23/11, a organização está promovendo um circuito de palestras, por várias cidades dos EUA, a serem apresentadas por “companheiros do Brasil”, que falarão sobre “Os levantes de 2013 no Brasil”. Bom serviço prestariam se falassem aqui. Mas... pois é. [NTs]
[8] Ver 3/11/2013, “A Ideia É a Coisa”, Anarchist Archives, traduzido em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/11/a-ideia-e-coisa.html [NTs].
[9] http://en.wikipedia.org/wiki/File:Haymarket_Martyr%27s_Memorial.jpg
[10] http://en.wikipedia.org/wiki/Hector_Xavier_Monsegur

Fonte:
- VioMundo: Jeremy Hammond e os Revolucionários da Informação 
- Truth Dig: The Revolutionaries in Our Midst

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