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Nosso Cérebro não nos Permite ver a Realidade

segunda-feira, 14 de abril de 2014 |

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Você acha que o que você é a realidade? A verdade que o que temos como realidade é em parte o que é visível pelos olhos e o resto é preenchido pelo nosso cérebro. Veja neste artigo a entrevista com a estudiosa de neurociência Susana Martínez-Conde, que explica como o processo de percepção é utilizada para nos enganar, não apenas pelos mágicas, mas também pela publicidade e políticos.

Para muitas pessoas, Juan Tamariz é um pouco mais que um mágico de aspecto peculiar e mais ou menos engraçado do que parece quando está na televisão. As aparências, como se sabe, enganam. Tamariz é um dos ilusionistas mais respeitados do mundo e um autêntico estudioso da magia;  ele fez carreira com sua capacidade de explorar a tendência dos nossos olhos e nosso cérebro de distorcer a realidade e seu trabalho, como a de outros profissionais do piedoso engano, tem um grande interesse pela neurociência.

Susana Martínez-Conde

Susana Martínez-Conde nasceu em La Coruña. Concluiu o doutorado na Universidade de Santiago de Compostela, seguido de um pós-doutorado no laboratório do premiado nobel David Hubel na Universidade de Harvard. Atualmente é diretora do Laboratório de Neurociência Visual da Barrow Neurological Institute (Phoenix, Arizona). Antes, dirigiu laboratórios na University College London (Reino Unido).

Susana Martínez-Conde disse em uma conferência na Universidade Europeia de Madrid como alguns dos mágicos mais célebres do mundo haviam recomendado que se ela quisesse de verdade aprender sobre a teoria da mágica, que entrevistasse um tal de de "Tamaris". Martínez-Conde havia falado com eles sobre sua busca dos fundamentos neurais da forma em que nosso cérebro recria a realidade que percebemos. Recria, porque o que achamos que percebemos é somente uma aproximação a realidade. Suas conclusões se refletiram no livro Los enganos de la mente, que assina com o marido, o também neurocientista Stephen Macnick,  e são preocupantes para aqueles que necessitam acreditar no que veem com seus próprios olhos

A que se refere quando diz que a mente nos engana?

O engano se refere ao que nós vemos, ou não percebemos, porque isto não acontece apenas com a visão, a realidade tal como é. O cérebro nos está dando uma imagem que, se falarmos do sentido da visão, não é uma imagem fidedigna e às vezes é claramente diferente da realidade.

Há alguma possibilidade de evitar esse engano?

Não é possível ter uma representação fidedigna da realidade com os recursos neurais que temos. O cérebro tem uma tamanho que é bastante reduzido, e se vê forçado a ter, no caso do sistema visual, apenas uma milhão de fibras, que são os axônios que compõem o nervo óptico.  Isso seria equivalente a um milhão de pixels (1 MP). Isto, que seria muito pouco em uma câmera, chega em sua totalidade ao cérebro porque toma amostras da parte que pode ter maior informação e depois preenche as lacunas. Mas às vezes preenche de maneira incorreta.

Por mais que você treine, não irá superá-lo porque tem uma limitação física no cérebro. Poder maximizar o que tem, mas, além não poderá ir. Quem sabe no futuro, em um cenário de ficção científica, se houver uma prótese neural que seja capaz de aumentar estas capacidades, poderia ser uma via, mas baseando-se em nossa biologia, não.
"Não é possível ter uma representação fidedigna da realidade com os recursos neurais que temos".
Se fosse possível fazê-lo, seria desejável?

Tão pouco seria interessante, porque o fato de estar selecionando a informação que vamos processar nos libera de processar informação que não necessitamos o que pode interferir com o restante. O que faz com o que cérebro preencha as lacunas é uma estratégia muito mais eficaz em termos de recursos neurais e da velocidade de processamento que processar toda a informação.

De um ponto de vista evolutivo, pode nos dar alguma vantagem para a sobrevivência o cérebro nos enganar?

O cérebro nos enganar é um efeito secundário dos mecanismos que necessita implementar com suas limitações para que nós mesmos possamos sobreviver e transmitir a herança genética para a geração seguinte. O fato do engano não é uma vantagem evolutiva, mas os mecanismos que o cérebro tem implementado para acelerar a velocidade e a capacidade de processamento com estes recursos limitados dão lugar ao engano. Mas na maior parte dos casos este engano é inofensivo porque o cérebro, apesar de não perceber a realidade tal como é, faz em si uma simulação bastante aproximada .

Tem alguma relação estas ilusões visuais com outras recriações da realidade que nosso cérebro tem como as falsas memórias?

Na memória também existe uma diferença. Não devemos confiar em nossas memórias. De fato, tem havido uma série de estudos que demonstram que a memória pode se alterar. Incluindo a maneira de fazer uma pergunta que pode variar a memória de uma pessoa. Isto é algo que os mágicos também utilizam. por exemplo, Elizabeth Loftus, em um de seus clássico estudos que também mencionamos no livro, tem uma série de observadores vendo um vídeo de um carro que se colide com outro. Depois de vê-lo, para parte destas pessoas foi perguntado qual era a velocidade que acreditavam que estava o carro vermelho quando se chocou contra o carro azul, e a outras perguntam qual era a velocidade do carro vermelho quando se chocou contra o azul. No segundo caso dizem que a velocidade é muito maior.

As memórias não são fidedignas e até a neurociência está argumentando que deveria deixar de utilizar o depoimento de testemunhas, porque praticamente não tem valor, pois não representam a realidade tal como ocorreu. O mesmo acontece com a memória autobiográfica, com coisas que aconteceram com nós mesmo. Pela neurociência, hoje sabemos que o estamos fazendo para acessar as memórias que são armazenadas a longo prazo é lembrar delas, recordar e guardá-las de volta, e este ato de retirá-las do armazenamento a devolvemos armazenando alterações. A cada vez que acessamos uma memória a estamos modificando, às vezes de maneira mínima, mas às vezes de maneira muito substancial.

As implicações da manipulação de nossas percepções na mágica, funcionam igualmente na política e na publicidade?

Nós não os estudamos, mas são técnicas que não são só os mágicos que utilizam. Nós utilizamos uns com os outros constantemente. Os mágicos não tem acesso aos circuitos do cérebro que ninguém utiliza, apenas os exploram e os tem refinado de uma maneira que é espetacular, mas também são feitas em outros campos como a publicidade, marketing, política.... De fato, no primeiro artigo que publicamos sobre a mágica para a Scientific American recebi uma carta de um leitor que havia gostado muito do artigo, mas que havia uma falha, uma vez que colocamos mágicos, teríamos que colocar políticos.

Se tanto a visão como as memórias nos enganam, isso não dificulta a noção entre diferentes pessoas sobre a realidade?

O fato de que o cérebro nos engana não quer dizer que nos engane a cada um de uma maneira diferente. Existem diferenças individuais, mas o circuito básico é comum a todos. Todos somos enganados, mas todos experimentamos um engano similar.

Quais são as aplicações deste estudo?

Estamos colaborando com o Instituto Kingston de Ressuscitação do Canadá, com médicos que estão formando técnicas de ressuscitação para acelerar seu treinamento e que sejam capazes de sobrepor-se um pouco a este efeito túnel quando se deparam com uma situação de ressuscitação de emergência. Os novatos tendem a concentrar-se no rosto do paciente e ignoram outros recursos ou instrumentos, enquanto que os médicos que tem mais experiência podem relaxar mais o foco de atenção. Acreditamos que podemos chegar a implementar um método de informação que acelere esta transição de principiante à especialista baseando-se na neurociência da atenção.

Outra possibilidade é a utilização das análises de movimentos oculares como ferramenta de apoio no diagnóstico ao Mal de Alzheimer e da deterioração cognitiva leve. No cérebro existe uma grande sobreposição dos sistemas neurais que controlam a posição dos movimentos dos olhos e os sistemas que controlam a concentração do foco de atenção. É basicamente o mesmo sistema neural. Em doenças como o Mal de Alzheimer, e que há deterioração da atenção, temos visto que os movimentos oculares estão afetados de uma maneira característica. E não apenas com pacientes de Alzheimer e sim, com outras deteriorações cognitivas leves, que não haja Alzheimer, no entanto, mas que estão em uma situação de risco de desenvolvimento. Temos a esperança que isto possa ajudar como marcador de diagnóstico precoce.

Você trabalhou mais de 15 anos fora do país, como vê essa posição da situação da ciência aqui na Espanha? Os problemas são apenas de financiamento ou também de cultura na hora de trabalhar?

Eu não acredito que a diferença cultural seja tão importante. Estive fora da Espanha por 17 anos e quando fui pesquisar a situação estava um pouco complicada. De fato, quando fiquei 4 ou 5 anos nos EUA, tive a oportunidade de voltar e me deu medo. No final pensei na incerteza de voltar nessas condiçõe e acabei aceitando uma oferta em Londres, na Universidade College London, que foi onde tive meu primeiro laboratório
"A Espanha vai perder uma geração de pesquisadores".
Mas em seguida, poucos anos antes de ir para Londres e depois de uns anos no Arizona, a situação estava boa, mas competitiva, e nesse momento eu estava planejando se não seria bom voltar. Vi que havia um grande investimento do governo, formando centros, atraindo pesquisadores. Incluindo pessoas notáveis. Em meu laboratório sempre aparecem alguns espanhóis. Agora mesmo, entre o meu laboratório e o do Steve, meu marido e principal colaborador, temos quatro espanhóis. E note a quantidade de pessoas que entram em contato comigo para vir ao meu laboratório na Espanha. Quando as coisar vão mal, tem muitos que querem vir, quando vai bem, há menos. E naqueles tempos era menor.

A verdade é que se avançou muito, mas com as crises e os cortes dos avanços realizados na época se perderam e não se recuperaram em décadas. E não é só isso. A Espanha vai perder uma geração de pesquisadores e isso não são apenas pessoas que estão pesquisando hoje, são pessoas que não vão se dedicar à pesquisas porque veem que não tem futuro. E mesma vi quando fiz o bacharelado em La Coruña. Me pediram que desse uma palestra, e o que vi eram alunos com 15 ou 16 anos que já estavam desiludidos. Eu com essa idade não pensava em como estaria o mercado laboratorial ou se poderia adiante criar uma família... São praticamente crianças e já estão desiludidos com seu futuro, e para ser um pesquisador tem que ter ilusão.

Fontes:
- Periodismo Alternativo: “Nuestro cerebro no nos permite ver la realidad tal como es”
- Es Materia: Tus recuerdos del pasado han sido manipulados
- Es Materia: “Nuestro cerebro no nos permite ver la realidad tal como es”
- Maestroviejo´s Blog: “Nuestro cerebro no nos permite ver la realidad tal como es”

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